VIDA LIVRE DAS DROGAS

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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

"ALCOOLISMO: A FAMÍLIA NA BUSCA DA RECUPERAÇÃO"


Obs: Imagem extraída do site: www.snpcultura.org


"ALCOOLISMO: A FAMÍLIA NA BUSCA DA RECUPERAÇÃO"


Sabemos que o alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e fatal, que tem assolado milhares e milhares de homens e mulheres no mundo inteiro. Porém, muito pouco temos falado dessa doença e de sua devastadora dimensão no campo emocional, no âmbito das relações familiares.

Primeiro as primeiras coisas; é preciso não apenas conceituar a família, mas também, compreendê-la como um sistema dinâmico no qual, o que acontece com um dos membros, afeta todos os demais.

Numa família, quando um dos membros sofre da doença alcoolismo, o impacto decorrente  está diretamente relacionado às reações que vão ocorrendo com o alcoólico em todo o processo da doença, antes e durante a sua recuperação.

Ao longo de muitos anos trabalhando com alcoólicos, percebemos que essa doença multifacetada provoca indagações com relação à dinâmica familiar que se estabelece em torno do membro assim adoecido. Cabe então dizer que inicialmente a família passa por vários estágios, desde a negação da doença até a sua total desestruturação.

A estrutura familiar passa a ser permeada por mentiras e cumplicidades, o que gera um clima de segredo familiar cuja regra é o não dito das emoções. Isso leva a família a assumir uma inversão de papeis e funções, como por exemplo, um filho assume o lugar do pai ou da mãe alcoólica e toma para si todas as responsabilidades pertinentes aos pais.

Diante dessa desordem familiar, podemos constatar em algumas famílias a formação de alianças secretas entre filhos e pais, que levam a uma total falta de limites e perda da autoridade entre os subsistemas parental (pais) e fraterno (os filhos).

Os mitos familiares precisam ser identificados, dentre eles a postura do "caso perdido" ou do "isso não tem mais jeito", que leva a família crer que sua situação "é coisa do destino", ou que o alcoólico bebe porque é "sem vergonha" ou "um fraco" em sua fé. Tais mitos levam a uma falta de atitude na busca de ajuda.

Ao acolher famílias que buscam ajuda para tratar seus membros alcoólicos, inúmeras vezes identificamos a FAMÍLIA ADOECIDA, tanto quanto ou muito mais que o próprio alcoólico.

Ou seja, uma família intoxicada, não pelo álcool, mas por emoções corrosivas que alteram completamente o seu centro de equilíbrio. Isso pode ser percebido nas narrativas apresentadas, no tom de voz, nos gestos rígidos. Os familiares experimentam cotidianamente: FRUSTRAÇÃO, ANSIEDADE, CULPA,TRISTEZA, RAIVA, MÁGOA, IMPOTÊNCIA E RESSENTIMENTOS, que levam essa família a uma grande exaustão emocional.

Há também certas atitudes, certos valores e crenças, certos comportamentos presentes em determinadas famílias, que empurram seus membros alcoólicos de volta para o alcoolismo ativo. Infelizmente, algumas famílias, por desconhecerem os fatos a respeito da doença, de algum modo sabotam o tratamento do alcoólico.

Tais familiares tornam-se isolados. Focalizam o comportamento do alcoólico e fazem tentativas de controlá-lo. Acabam vivendo um autoabandono, pois dedicam pouco tempo às próprias atividades.

Surge então a chamada CODEPENDÊNCIA, uma doença emocional adquirida a partir de relacionamentos disfuncionais. É uma síndrome definível, crônica e segue uma progressão previsível, tal como o próprio alcoolismo.

Durante anos, muitos alcoólicos acreditam não ser dignos do amor de seus familiares e, em contrapartida, muitos familiares não acreditam que seriam capazes de amar novamente e com a mesma intensidade seus entes alcoólicos.

No caminho da recuperação, é preciso desenvolver relacionamentos saudáveis dentro da estrutura familiar. Sair das relações insanas entre alcoólico e sua família, através do poder curativo encontrado na prática do PROGRAMA DE DOZE PASSOS DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS.

Nesse programa de recuperação, todos podem desenvolver e ampliar seu contato com um Poder Superior, tal como cada um O concebe, e verdadeiramente trocar um projeto de morte por um projeto de vida.

Pessoas podem sim recomeçar a viver saudavelmente, expressando ao seu próximo todo o respeito e confiança que passa a depositar nele e, principalmente, em si mesmo.

Compreendemos que pessoas precisam de pessoas, pois através dos relacionamentos aprendemos a lidar com fatos da vida. Expressar reconhecimento através de palavras e ações será sempre uma grande ferramenta para o exercício da sobriedade emocional.

É preciso que estejamos atentos a essa doença e incentivemos também a família para o seu próprio tratamento, através de AL-ANON - a Irmandade que acolhe familiares e amigos de alcoólicos -, pois acreditamos que, sozinhos não podemos, mas, juntos, família e alcoólico podem reencontrar o saudável caminho da recuperação.


AUTORA: Drª JAIRA FREIXIELA ADAMCZYK 
(Presidente da JUNAAB - Psicóloga, Terapeuta de família e de casal, Mestre em Tratamento e Prevenção das Drogadependências - Florianópolis/SC)


Obs: Este artigo foi extraído da Revista Vivência - Revista Brasileira de Alcoólicos Anônimos, ano:31, número:4, Julho-agosto, ano: 2016, páginas: 06, 07 e 08. 
Site da AA: www.alcoolicosanonimos.org.br
Site da revista: www.revistavivencia.org.br